Texto : Gleiciane Freitas, Professora de História.
Você pode ser um “bom profissional” ou se contentar com a
mediocridade de ser apenas “mais um profissional”. A diferença está justamente
no esforço usado para tornar-se, se não o melhor, pelo menos um dos melhores
naquilo que faz. Eu amo a minha profissão e, sobretudo a ciência que escolhi
descortinar e usar. Durante anos busquei dominar os saberes necessários para o
seu exercício. Vivenciei a dura e lamentável dicotomia da licenciatura versus
bacharelado, ensino versus pesquisa.
Compreendi que só teria êxito na primeira
se buscasse pela segunda. Tentei dominar então, o que qualquer profissional da
minha área tem a obrigação de saber. Obrigação? É, obrigação! Porque penso que
gostar de uma área não é suficiente, é preciso dominar todos os elementos que a
constituem.
A experiência é importante, mas se as práticas que a
originaram não forem fundamentadas no conhecimento construído historicamente
sobre ela, de nada adianta. Essa vontade de ser bom no que se faz pode render
algumas vantagens, e me rendeu, porém ajudou também a angariar uma série de
olhares desconfiados daqueles que até gostam da ciência com a qual trabalho,
mas cujo único erro foi não estudá-la para poder com ela trabalhar
corretamente.
O esforço me levou ao mundo da escrita didática, entre
mestre e doutores, o meu esforço foi validado num teste em que eu tive que
mostrar que entendia sobre didática do ensino de História. E provei.Isso me
rendeu um contrato de oito anos com uma das maiores editoras de São Paulo. E eu
me pus a escrever e a ensinar. Era minha parcela de contribuição (pelo menos eu
achava que era): possibilitar através dos conhecimentos históricos acumulados
ao longo dos anos, a construção de esquemas mentais que permitissem aos meus
alunos ler o mundo, a realidade que os cerca.
Só que hoje, a indignação me leva a reclamar, porque
quanto mais você se aperfeiçoa numa determinada área, mais fácil é reconhecer
os erros cometidos por aqueles que adentram nela sem conhecê-la. Vi e continuo
a ver os “assassinatos” cometidos principalmente no ensino fundamental no que
se refere ao ensino de história, simplesmente porque aqueles que coordenam esse
ensino precisam, se realmente querem orientar alguém a ensinar história, no
mínimo saber dela. Coisas simples, mas
necessárias:
1º-Existe uma complexidade nesta ciência, como existe em
qualquer outra, dessa forma apenas gostar não é suficiente, é preciso formação
na área;
2ª O ensino de história local não é mais importante que o
nacional, ou vice-versa, eles se completam, eles, em muitos casos, se explicam;
3º Muito mais do que o vômito de informações sobre
personalidades locais, é preciso criar situações para que o aluno compreenda a
complexidade das relações humanas no fazer histórico.
4º As informações sobre o surgimento da paróquia e da
emancipação do município nada servem se o aluno não for preparado para
compreender os conceitos estruturantes da disciplina como é o caso do conceito
de “tempo”. São esses conceitos que
permitem aos alunos criar esquemas mentais usando os conteúdos históricos para
entender a realidade atual.
5º Há diferenças entre o que é fonte e o que é História.
A primeira é um instrumento utilizado para a produção da segunda, assim,
notícias de jornais por si só não são História, são fontes, e estas também não
falam por si só. É o olhar do historiador, metodologicamente preparado para
analisá-las que produz o discurso histórico. E pessoas mais velhas capazes de
contar história sobre o município não são “historiadores populares”, são fontes
orais.
6º - O trabalho com a memória e a noção de "lugares
de memória" ultrapassa a simples história das construções de bens tombados
pelos poderes municipais.
7º- Leiam sobre “anacronismos”, sobre “historicidade”,
"maniqueísmo na história", “verdade histórica”, leiam sobre “fontes
históricas no ensino de história”, leiam sobre “produção do discurso
histórico”.
Preparem-se, é o mínimo que se espera de alguém que
pretende orientar professores a ensinar história.
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