sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Pelo amor de Deus parem de fazer com que esses meninos(as) odeiem História!


 Texto : Gleiciane Freitas, Professora de História. 



Você pode ser um “bom profissional” ou se contentar com a mediocridade de ser apenas “mais um profissional”. A diferença está justamente no esforço usado para tornar-se, se não o melhor, pelo menos um dos melhores naquilo que faz. Eu amo a minha profissão e, sobretudo a ciência que escolhi descortinar e usar. Durante anos busquei dominar os saberes necessários para o seu exercício. Vivenciei a dura e lamentável dicotomia da licenciatura versus bacharelado, ensino versus pesquisa. 
Compreendi que só teria êxito na primeira se buscasse pela segunda. Tentei dominar então, o que qualquer profissional da minha área tem a obrigação de saber. Obrigação? É, obrigação! Porque penso que gostar de uma área não é suficiente, é preciso dominar todos os elementos que a constituem.

A experiência é importante, mas se as práticas que a originaram não forem fundamentadas no conhecimento construído historicamente sobre ela, de nada adianta. Essa vontade de ser bom no que se faz pode render algumas vantagens, e me rendeu, porém ajudou também a angariar uma série de olhares desconfiados daqueles que até gostam da ciência com a qual trabalho, mas cujo único erro foi não estudá-la para poder com ela trabalhar corretamente.

O esforço me levou ao mundo da escrita didática, entre mestre e doutores, o meu esforço foi validado num teste em que eu tive que mostrar que entendia sobre didática do ensino de História. E provei.Isso me rendeu um contrato de oito anos com uma das maiores editoras de São Paulo. E eu me pus a escrever e a ensinar. Era minha parcela de contribuição (pelo menos eu achava que era): possibilitar através dos conhecimentos históricos acumulados ao longo dos anos, a construção de esquemas mentais que permitissem aos meus alunos ler o mundo, a realidade que os cerca.

Só que hoje, a indignação me leva a reclamar, porque quanto mais você se aperfeiçoa numa determinada área, mais fácil é reconhecer os erros cometidos por aqueles que adentram nela sem conhecê-la. Vi e continuo a ver os “assassinatos” cometidos principalmente no ensino fundamental no que se refere ao ensino de história, simplesmente porque aqueles que coordenam esse ensino precisam, se realmente querem orientar alguém a ensinar história, no mínimo saber dela.  Coisas simples, mas necessárias:

1º-Existe uma complexidade nesta ciência, como existe em qualquer outra, dessa forma apenas gostar não é suficiente, é preciso formação na área;

2ª O ensino de história local não é mais importante que o nacional, ou vice-versa, eles se completam, eles, em muitos casos, se explicam;

3º Muito mais do que o vômito de informações sobre personalidades locais, é preciso criar situações para que o aluno compreenda a complexidade das relações humanas no fazer histórico.

4º As informações sobre o surgimento da paróquia e da emancipação do município nada servem se o aluno não for preparado para compreender os conceitos estruturantes da disciplina como é o caso do conceito de “tempo”.  São esses conceitos que permitem aos alunos criar esquemas mentais usando os conteúdos históricos para entender a realidade atual.

5º Há diferenças entre o que é fonte e o que é História. A primeira é um instrumento utilizado para a produção da segunda, assim, notícias de jornais por si só não são História, são fontes, e estas também não falam por si só. É o olhar do historiador, metodologicamente preparado para analisá-las que produz o discurso histórico. E pessoas mais velhas capazes de contar história sobre o município não são “historiadores populares”, são fontes orais.

6º - O trabalho com a memória e a noção de "lugares de memória" ultrapassa a simples história das construções de bens tombados pelos poderes municipais.

7º- Leiam sobre “anacronismos”, sobre “historicidade”, "maniqueísmo na história", “verdade histórica”, leiam sobre “fontes históricas no ensino de história”, leiam sobre “produção do discurso histórico”.

Preparem-se, é o mínimo que se espera de alguém que pretende orientar professores a ensinar história.

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